segunda-feira, 12 de outubro de 2015

me fisguei

eu posso estar enganada
mas acho que me fisguei
plantou uma curiosidade em mim essa menina
que não sei bem como foi parar aí
eu achei que tava com o coração cheio, transbordando com ataduras e coisas podres saindo dele
eu achei que eu tava imune a essas fisgadas porque já tava estralhaçada
mas tem alguma coisa nessa menina
tem alguma coisa que meche comigo
precipitado talvez
ou intuição?
essa menina tem uma fala frenética, um ritmo encantador
umas histórias aleatórias e absurdas e fantásticas - e dá pra não se encantar?
e é doce, e é leve (meu deus, quanta falta da leveza eu sinto nos últimos dias! e ela tem)
e é alguém que se diverte e que se importa e que vê coisas bonitas da vida
é alguém que ri, que zoa, que tira sarro sem ser intelectualmente bacana o tempo todo

mas talvez
talvez seja só o desespero de ser amada por alguém querida
talvez seja só porque ela me trata bem
talvez seja só porque estamos solteiras
talvez seja só porque eu tava ali e ela também
talvez seja só uma paixonite que passa rápido
mas posso jurar que talvez seja intenso
e que talvez eu também te fisguei

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

do convivio exagerado de 20 até a solidão de 1

agora eu entendi o que eles falavam, eu entendi o que é voltar. o que é a solidão de quem volta.
não, voltar não é como ir a primeira vez - não é só achar tudo chato, não é achar que nada mudou, que as pessoas ainda vão nos mesmos lugares. na verdade o que dói em voltar é justamente o contrário.
tudo é tão diferente, os lugares são outros... mas são iguais. vou tentar explicar.

na faculdade, não sei porque me preocupei tanto com os conhecidos que poderiam me encarar com cara de "ah! você por aqui! e o que tu fez nos últimos dois anos? ainda não te formou?", mas a cara de mestrandos dos meus colegas não seria nada comparada à estranheza do primeiro dia. parecia que eu tinha voltado cinco anos no tempo, que era meu primeiro semestre. primeiro dia de aula e eu não conhecia ninguém (só uma colega que fingiu não me conhecer). ninguém. ninguém, nem um comprimento com o olhar. eu vivi todos os dias durante quatro anos naquele lugar, eu sentei em cada sala das trinta e poucas que tem lá, eu caminhei e encarei aqueles murais mais de vinte vezes por semana, eu sentei no banco de pedra na frente do prédio e tomei café, salgados, chocolates, até refrigerantes às 9 horas da manhã e de repente: nada. nada, nem um sinal de que eu tivesse vivido aquilo. nem um sinal de que aquele mundo foi meu. como se não tivesse existido aqueles quatro anos, como se eu não tivesse existido nunca ali. e eu, que tinha tanto medo de rostos conhecidos encontrei rostos tão novos, tão serenos, tão sabendo-o-que-estão-fazendo, enquanto eu voltava ali, perdida, perguntando nos corredores que já foram meus "onde fica o pavimento dois?".
ao mesmo tempo, ironicamente, ou coisas da minha cabeça, provável, tudo era igual. não porque fosse igual, mas era uma mímese, era uma reprodução dos anos anteriores. a menina parada olhando o mural era exatamente igual a uma das minhas colegas, o rapaz com vários livros me lembrou aquelas colegas que costumavam andar com livros nas mãos. e o moço tomando um café no banco de pedra poderia ser alguém como eu... se eu não fosse agora essa pessoa que passa apressada sem querer olhar pros lados com medo de encontrar alguém conhecido, sem saber que a única coisa desconhecida que vai encontrar ali é ela mesma.

mas seguimos, com a cabeça dando voltas sem pensar nada, o medo por todo o corpo, um suspiro demorado e o anseio de não ter com quem conversar nos cinco minutos de intervalo.
sigo. sigo porque preciso, porque eu achei que tudo ia ficar me esperando, mas a verdade é que tudo seguiu... que tudo continuou indo, nada ficou me esperando.

domingo, 10 de agosto de 2014

à espera do fracasso

não me venha com esse papo de fracassados. nós não fomos o suficiente pra ser alguma coisa, muito menos fracassados, veja bem.
pra ter chegado a fracassar a gente precisaria ter tentado algo - e ainda estamos no meio desse algo, dessa tentativa. ainda não deu tempo de fracassar. então segura o coração que logo mais estaremos derrapando aceleradamente com destino ao fracasso - mas ainda não

o sorriso da minha menina

minha menina tem um sorriso acanhado, pequeno, charmoso. daqueles sorrisos que vem sem pedir permissão, que afloram na boca e mexem também os olhos - trazem junto um olhar escuro. minha menina tem um desses sorrisos que não nasce em qualquer um. sorriso que ela não queria que nascessem assim repentinos, independentes, quase emancipados (ela não sabe que ser incontrolável é o que torna o sorriso belo). e é um sorriso sapeca também: brincam na boca seus dentes, formam os lábios dois traços meigos (mas muito espertos), tudo em tom de vermelho-trova, vermelho-infância.
Malícia - palavra bonita que salta do sorriso dela. Impossível não notar a antítese: tão menina e tão mulher. minha menina transparece uma calmaria de onda correndo até a beira da praia, sorriso azul com detalhes brancos. mas ela cospe a areia da boca e, como correnteza, a onda volta furiosa em direção ao mar (e em direção à si) e carrega tudo e todos. pois não se enganem os que só vem alegria; seu sorriso é também imposição. minha menina é também força, é também poder.

eles tinham razão

acho que eles tinham razão. de uma forma diferente, mas tinham razão.
nos tornamos todos um pouco fracassados. cada um vivendo a sua maneira, mas todos um pouco fracassados.
drogados, deprimidos, infelizes. não mudamos muito no fim das contas, e acho que foi bem isso que nos tornou tão frustados. aos 13 descobrimos um mundo mágico - assustador mas fascinante. aos 15 finalmente pudemos começar a provar todas as coisas novas. aos 18 não nos restava o que descobrir, o que provar, o que fazer. ainda não chegamos aos 20 e sobreviver é o maior sonho. SOBREviver. só o suficiente, só ir indo, só.
alguns jogaram suas maiores cartas no começo, e agora cansaram de jogar com as baixas. e eu? que cartas tenho na mão? que jogo eu jogo? tenho recuado ou tenho a mão vazia? tão difícil dar respostas a um jogo que não acaba tão cedo. que não tem vencedores.

um sonho que sonhei

vim aqui contar um sonho.
já fazem 10 horas que sonhei, mas vou tentar relatar as impressões que sobraram. e prometo tentar não inventar nada na hora, só o que veio do sono originalmente :)

o seguinte é: eu andava atrapalhada porque tinha de receber um dinheiro pq queria comprar coisas, e o dinheiro não vinha, e eu pensava Azar, não comprarei. Mas daí Tchurum! em meio ao sonho eu recebo uma boladinha em dinheiro de uma tradução de um livro em francês que eu ia fazer com uma colega minha da Letras. e ia lá, pegava o dinheiro (ou melhor, meu cartão) e TACH! pagava as compras que eu queria e saía feliz da vida... até que me dou conta de um negócio: eu não falo francês, e nem sei traduzir nada. e eu me pegava desprevinidamente sendo irresponsável, porque minha colega tinha um prazo pra entregar a tradução toda, e eu não podia deixar ela na mão. mas ao mesmo tempo eu não sei bulhufas de francês.
o que eu fiz? não sei. lembro da confusão mental de Bueno, traduzo no google tradutor e dane-se. e depois pensando Não, não, eu vou devolver o dinheiro e pago a dívida quando puder...
mas eu nunca me acuerdo da resposta, das conclusões. elas nunca chegam.
apesar das aflições, o sonho era alegre, meio roxo e amarelo, e tinha a presença dessa minha colega, que eu acho uma pessoa pra cima, apesar de toda a ironicidade(?) e cara de má que ela carrega com ela.

Sobre alguém, não me lembro quem

São duas de ti.
Descobri, assustada, que são duas. Um lado preto e um lado branco.
Tem uma parte séria, dura, forte - o lado preto, claro. É a parte intelecto, a parte mulher inteligente e esperta. Sagaz. É uma parte fechada também, que não se deixa tocar, que não se deixa aproximar.
Mas me aproximei. E por isso descobri a parte branca.
Doce, ingênua, é a parte menina-moça. É uma parte encantadora, sabia? Dá vontade de ficar conversando com essa parte branca o tempo inteiro.
Mas não é que eu não goste da parte escura. Alias, foi ela que fez eu me aproximar, tão atraente, sexy, segura. Responde direta o que quer, quando quer, como quer. Sem hesitações. É uma parte que esconde muito, que reserva traumas de infância, que na tentativa de não se revelar, cria uma camada de indiferença. A parte preta também é triste, também é dor. Ela não deixa que uma palavra doce saia de dentro nem que os ouvidos possam escutar alguma demostração de sentimento. Ela é fria. Preocupada e fria, com o olhar de desprezo pro mundo, com o olhar de quem não queria estar ali.

A não ser que você ative a parte branca.
Se a parte preta me atraiu, definitivamente não foi ela quem me fez ficar.